data-filename="retriever" style="width: 100%;">A partir da próxima sexta-feira, se inicia o Carnaval. Apesar de ser a festa mais popular do nosso país, ela divide opiniões. Alguns amam, outros odeiam. Enquanto muitos aproveitam o momento para entrar na folia, outros agradecem pelo feriadão para saírem da rotina e descansarem. O Carnaval não é exclusividade do Brasil, há inúmeros lugares do mundo que festejam a data, cada um com suas tradições e peculiaridades: Olinda e seus bonecos gigantes, Salvador com trios elétricos, Rio de Janeiro e o luxo das escolas de samba, Nova Orleans (Estados Unidos)com os colares de contas, Veneza (Itália) e suas roupas de época, Nice (França) com carros alegóricos de papel machê, Colônia (Alemanha) com festas nas ruas regadas a cerveja. Contudo, independente do lugar onde ele ocorra, uma indumentária comum é a máscara, que por si só traz sentimentos atrelados ao imaginário coletivo: segredo, vaidade e prazer. O segredo funciona para aqueles que não querem ser descobertos, a vaidade para os que buscam admiração e o prazer para os que perseguem a satisfação plena de uma vontade inconsciente. Além da máscara, há um sentimento comum e presente em todos os carnavais: a diversão.
Alguns dizem que Carnaval é a festa em que as pessoas tiram fantasias e máscaras que usam o ano todo e se entregam de corpo e alma a momentos de alegria e a prazeres sem pensar no amanhã. Por mais que eu seja da turma que foge da folia, não vejo o Carnaval como uma festa negativa, de extravagâncias e excessos. Quem é adepto a exageros e a baderna não precisa da data para ultrapassar limites. Vejo-o como uma comemoração, como a descrição apresentada pelo escritor Lima Barreto, na crônica O Morcego:
"O Carnaval é a expressão da nossa alegria. O ruído, o barulho, o tantã, espancam a tristeza que há nas nossas almas, atordoam-nos e nos enchem de prazer. Há, para esse culto do Carnaval, sacerdotes abnegados. O mais espontâneo, o mais desinteressado, o mais lídimo é certamente o Morcego.
Durante o ano todo, Morcego é um grave oficial da diretoria dos Correios, mas, ao aproximar-se o Carnaval, Morcego sai de sua gravidade burocrática, atira a máscara fora e sai para a rua. A fantasia é exuberante... E, então, ele esquece tudo: Pátria, família, a humanidade. Delicioso esquecimento! Esquece e vende, dá, prodigaliza alegria durante dias seguidos... Ele então não era mais a disciplina, a correção, a lei, o regulamento; era o coribante inebriado pela alegria de viver... Essa nossa triste vida, em um país tão triste, precisa desses videntes de satisfação e de prazer; e a irreverência da sua alegria, a energia e atividade que põem em realizá-la, fazem vibrar as massas panurgianas dos respeitadores dos preconceitos. Morcego é uma figura e uma instituição que protesta contra o formalismo, a convenção e as atitudes graves... A vida não se acabará na caserna positivista enquanto os "morcegos" tiverem alegria."
O Carnaval é uma festa linda, do povo, realizada com muita alegria e criatividade, sem preconceitos, distinção de cor, raça, sexo ou classe social. Se a festa proporcionar alguns momentos de ilusão, fantasia e alegria para as pessoas, já é um bom motivo para gostar dela, pois, para quem se envolve na folia, é uma justa compensação pelos demais dias do ano, de muito trabalho e superação.